Eu sempre me considerei uma pessoa criativa. Quando era menor gostava muito de fazer vídeos (agradeço todos os dias por eles terem se perdido), cantar, dançar, fazer arte nas unhas e desenhar.
Mesmo sempre tendo a minha criatividade incentivada (o que eu sei que não acontece pra todo mundo), quando chegou a hora de escolher uma faculdade nem passou pela minha cabeça fazer um curso relacionado à arte. Eu pensava que se eu quisesse ter uma carreira de sucesso teria que me formar em algum dos "cursos-ouro": medicina, engenharia, direito, etc. Na época, sendo uma das melhores alunas da sala, acho que eu sentiria até vergonha em escolher um curso de humanas em uma faculdade privada.
Apesar de toda essa ideia me parecer ridícula agora, eu não vou colocar toda a culpa na minha pobre-eu adolescente. Na verdade acho que a maior parte dessa ideologia veio da própria escola que colocou uma pressão absurda para que a gente fizesse a escolha "certa" - ou pelo menos certa pra instituição ganhar mais prestígio. Eu me sentia na obrigação de passar com uma boa colocação em um vestibular público e pensava em faculdades privadas como sendo o caminho para aqueles que não conseguiam passar em uma faculdade gratuita - e acho que os alunos que optavam por isso se sentiam assim também.
No final de 2012, então, eu prestei vestibular para vários tipos diferentes de engenharia em universidades públicas e fui aprovada na UFSC em engenharia da mobilidade e na UDESC em engenharia mecânica. No início de 2013 estava eu no meu primeiro dia de aula conhecendo o campus da UDESC orgulhosa e feliz da vida sem fazer ideia de onde eu tava me metendo.
Os primeiros semestres até que não foram tão ruins. Na primeira fase só reprovei em desenho (...é) e achava todo o resto um tanto mágico (e me sentia super orgulhosa em contar para os outros o curso que fazia). Com o passar dos anos, no entanto, comecei a perceber que não gostava nem um pouco do curso e nem da profissão. Eu sempre estava me sentindo miserável, reclamando, sofrendo crises de pânico e ansiedade e a minha personalidade estava sendo esmagada por códigos, contas e professores sérios demais.
Quatro anos depois de começar o curso eu resolvi desistir e ir fazer algo novo que pudesse me trazer de volta. Prestei vestibular pra publicidade e propaganda em uma faculdade privada, passei em segundo lugar, ganhei bolsa e, honestamente, foi como entrar em um novo mundo. Acostumada com a seriedade da engenharia, você pode imaginar a alegria que senti quando pude fazer um powerpoint colorido ou o espanto que me causou a primeira vez que um professor me perguntou "e aí, como você está?" com um abraço ou toda vez que vejo a quantidade de trabalhos de vídeo e fotografia e arte que já fiz em menos de dois anos.
É claro que toda essa história não foi pra dizer que você não deve fazer engenharia ou medicina ou direito - longe disso. Se é o que você gosta, vai fundo que o mundo é seu. O que eu quero dizer é que existe espaço pra crescer profissionalmente em absolutamente qualquer área contanto que você seja completamente apaixonado pelo que faz - e eu sei que isso soa um tanto clichê, mas agora vejo que faz muito sentido.
Se a sua preocupação for dinheiro, digo que se você estiver em uma área que não gosta é provável que vire um profissional médio e acabe ganhando salários médios também. Por exemplo, em engenharia (que teoricamente é um ótimo mercado na minha cidade) nunca tive um emprego, já em publicidade me fizeram milhões de propostas - e eu não estou nem na metade do curso.
Além disso, fazer um curso relacionado à arte não significa necessariamente pular direto para algo como artes visuais (apesar de ser super válido). Existem outras opções que também vão permitir que você use a criatividade de uma forma mais artística, como por exemplo arquitetura, fotografia, moda, design e a própria publicidade. Apesar de ser um pouco entediante, é interessante também tirar um tempinho pra ler as grades dos cursos que te interessam - assim você vai descobrir em quais áreas vai conseguir desenvolver habilidades técnicas (se esse for o seu objetivo).
No meu curso, por exemplo, eu tive várias matérias sobre a história da arte, criação, produção de vídeo e áudio, fotografia e edição de imagens, mas não tive nenhuma sobre técnica de desenho. Já na faculdade de design que a Fe faz, vi que ela teve matérias que eram mais voltadas para isso e incentivavam a criação manual através dos trabalhos, então a sua escolha vai depender do que você está buscando dentro do campo das artes. É importante lembrar também que as matérias mudam de instituição pra instituição mesmo dentro de um mesmo curso, por isso é importante ter aquele trabalho de olhar a grade e o corpo docente antes de prestar vestibular.
Acho que vale citar aqui também que não existe uma faculdade que por si só vai te tornar um grande artista ou permitir que você viva disso - é indispensável o envolvimento e a busca individual por evolução. Além disso, técnica dá pra aprender com a prática e na infinita disposição de conteúdo gratuito pela internet - a faculdade vai funcionar apenas como um complemento profissional.
Em resumo...
Siga o que faz o teu sangue vibrar e o olho abrir 70 graus a mais do que ele abriria normalmente. A opinião dos outros pode parecer muito importante agora, mas o caminho que você escolher seguir vai moldar a sua vida e de mais ninguém.
Mantenha em mente também que somos muito novos na época de escolher um curso pra decidir qualquer coisa sobre o nosso futuro, então é normal escolher, ver que não era bem aquilo, dar um duplo twist carpado e começar de novo. Claro que aqui muitas vezes entram aspectos financeiros que impedem esse recomeço, mas saiba que está tudo bem e que você pode usar os aprendizados de um curso que não gosta muito pra fazer algo que tenha mais a ver com você (por exemplo, eu poderia ter me formado em engenharia e me especializado em marketing ou design - honestamente, não me parece um caminho tão ruim).
Deixe um comentário